(1866) Resoluções sobre vestuário [06/06]

Em 30 de abril de 1866, a igreja de Battle Creek adotou um conjunto de resoluções sobre vestuário. Os participantes da assembleia da Associação Geral daquele ano apreciaram tanto essas resoluções que votaram adotá-las, fazendo apenas uma pequena alteração no texto do ponto 7 e adicionando um 12º ponto. O texto é o seguinte:

Tendo em vista o presente estado corrupto e corruptor do mundo, e os extremos vergonhosos ao que orgulho e moda estão levando seus adeptos, e o perigo de alguns entre nós, especialmente os jovens, de serem contaminados pela influência e pelo exemplo do mundo à sua volta, nos sentimos constrangidos como igreja a expressar nossos pontos de vista sobre o tema do vestuário nas seguintes resoluções, as quais acreditamos serem verdadeiramente bíblicas. Isso irá recomendar-se ao gosto cristão e julgamento de nossos irmãos e irmãs em qualquer lugar.

 Resoluções:

  • Ponto 1. Cremos, como igreja, que é dever dos nossos membros ser extremamente simples em todas a questões relacionadas ao vestuário.
  • Ponto 2.Consideramos plumas, penas, flores e todos os enfeites supérfluos e somente uma demonstração exterior de um coração vaidoso, e, como tal, não devem ser tolerados em qualquer um de nossos membros.
  • Ponto 3.  Cremos que todas as espécies de ouro, prata, coral, pérola, borracha e joias de cabelo não são apenas elementos totalmente supérfluos, mas estritamente proibidos pelos claros ensinamentos das Escrituras.
  • Ponto 4.Adornos de vestidos. Sustentamos que babados, laços e excessos de fitas, cordões, trança, bordados, botões etc., em aparamento do vestuário são vaidades condenadas pela Bíblia (Isaías 3), e, consequentemente, não devem ser tolerados por “mulheres que professam a piedade”. Por “laços”, entendemos o costume de usar vestidos longos e então ligá-los à saia em intervalos.
  • Ponto 5. Vestidos decotados. Cremos que estes são uma vergonha para a comunidade e um pecado na igreja. E todos os que as usam transgredem de forma vergonhosa o conselho do apóstolo para que “se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso” (1 Timóteo 2:9).
  • Ponto 6. Adornar o cabelo. Cremos que a limpeza e a ornamentação extravagante do cabelo, tão comum nesta época, são condenadas pelo apóstolo (1 Timóteo 2:9). E cremos que os vários frisados e lantejoulas, tal como são usados para conter as deformidades artificiais chamadas “cachoeiras”, “rodas d’água” etc., são as “testeiras” de Isaías 3:18 (margem), que Deus ameaçou tirar no dia da Sua ira.
  • Ponto 7.Defendemos que, em matéria de barbear e tingir a barba, alguns de nossos irmãos mostram uma espécie de vaidade igualmente censurável como o de algumas irmãs em adornar o cabelo. Em todos os casos, eles devem descartar todos os estilos que denotem ar de presunção. Mas, embora não tenhamos objeções ao crescimento da barba em todas as partes do rosto, como a natureza o projetou, cremos que, ao removerem parte da barba, os irmãos erram grandemente na sobriedade cristã em manter bigode ou cavanhaque.
  • Ponto 8.Cremos que não devem ser toleradas as modas exageradas dos dias de hoje, em gorros e chapéus de mulheres; mas que o objetivo principal de se prover um vestuário para a cabeça deve ser cobri-la e protegê-la.
  • Ponto 9.  Cremos que alguns tipos de “argolas são uma vergonha” (Spiritual Gifts, v. 4, p. 68). Por “argolas”, entendemos qualquer coisa do tipo, pelo qual, por causa do seu próprio tamanho ou natureza do material, a forma de se utilizar se encontra susceptível de ser exposta imodestamente (veja Êxodo 20:26).
  • Ponto 10. Roupas caras. Cremos que Paulo usa a expressão “se ataviem com modéstia” (1 Timóteo 2:9) para condenar a obtenção do material mais caro para o vestuário, seja de homens ou de mulheres, para embora esse vestuário possa ser irrepreensível em outros aspectos.
  • Ponto 11. Novas modas. Cremos que o povo de Deus deve ser tardio para adotar novas modas, de qualquer tipo que possam ser. Se determinada moda não for útil, não devemos adotá-la absolutamente. Se a moda for útil, levemos tempo suficiente para adotá-las depois que forem testadas e o entusiasmo de sua inovação tiver passado. Depois de vermos que ela é pura, modesta e conveniente, devemos ser lentos para fazer mudanças (veja Tito 2:14) [18].
  • Ponto 12. Embora condenemos o orgulho e a vaidade como estabelecidas nas resoluções anteriores, igualmente abominamos tudo que é desleixado, negligente, desarrumado e sem limpeza no vestuário ou nos bons modos [19].

Referências:

  1. Vários anos atrás, uma universidade adventista norte-americana patrocinou uma série de palestras sobre a influência metodista no adventismo. Cada palestra concentrou-se em algum tema, como saúde ou vestuário, e mostrou que o metodismo teve influência sobre as crenças e o estilo de vida adventista. A pessoa escolhida para falar sobre o vestuário se sentiu tão desconfortável ao encontrar tantos paralelos entre os escritos de Ellen White e os de Wesley que nunca chegou a proferir a palestra.
  2. Veja, por exemplo a reedição do sermão de Wesley, “On dress”, em Review and Herald, 10 de julho de 1855.
  3. Review and Herald, 22 de maio de 1866.
  4. The Light of the Home, p. 3-4.
  5. Ellen G. White, Testemunhos para a igreja, v. 4, p. 636-637.
  6. Veja Arthur White, Ellen G. White: The Aus­tralian Years, 1891-1900(Washington, DC: Review and Herald, 1983), p. 196-197.
  7. C. Fumas, The Americans: A Social History of the United States, 1587-1914 (Nova York: G. P. Putnam’s Sons, 1969), p. 18-19.
  8. A fotografia está impressa em Arthur White, Ellen G. White: The Early Elmshaven Years, 1900-1905(Washington, DC: Review and Herald, 1981).
  9. “A Female Oracle”, Minneapolis Tribune, 21 de outubro de 1888.
  10. Ellen G. White, Carta 32a, 1891.
  11. Fumas, The Americans, p. 564-569, 757-758; Robert R Roberts, “Popular Culture and Public Taste”, em: The Gilded Age, ed. H. W. Morgan, edição revista e ampliada (Syracuse, New York: Syracuse University Press, 1970), p. 285-286.
  12. Fumas, The Americans, p. 516-517; Roberts, “Popular Culture and Public Taste”, p. 286.
  13. Fumas, The Americans, p. 30, 115-117, 132-137, 183, 184. Veja também Janet Forsyth Fishburn, The Fatherhood of God and the Victorian Family(Filadélfia: Fortress Press, 1981).
  14. Veja Review and Herald, 22 de maio de 1866; Furnas, The Americans, p. 665. A combinação de bigode e cavanhaque foi popularizada por um culto à personalidade centralizada em Napoleão, imperador da França e um importante personagem na política europeia. Os adventistas podem ter reagido à associação do estilo com ele.
  15. Veja, no entanto, o argumento de Thomas Blincoe, em “The Preparation Principle”, Ministry, junho de 1988, p. 6-8. Thomas argumenta que a questão envolvida não é a quantidade de trabalho na limpeza, mas a importância da preparação para o sábado antes de sua chegada.
  16. Ellen G. White, Carta 158, 1902; Carta 263, 1905. Ambas aparecem em Manu­script Releases, v. 1, p. 394-395.
  17. Alguns adventistas talvez se lembrem da discussão sobre flores artificiais que aconteceu durante a década de 1950. Muitos argumentavam que as flores eram aceitáveis (ao contrário da posição do século 19), mas não deveriam ser usadas em reunião campais.
  18. Review and Herald,8 de maio de 1866.
  19. Item acrescentado pela assembleia da Associação Geral de 1866; publicado emReview and Herald, 22 de maio de 1866.

Gerald Wheeler, na época em que escreveu este artigo, era editor-associado de livros na Review and Herald Publishing Association. Atualmente é editor de livros na mesma editora. Ele possui graduação em inglês (Andrews University) e mestrado em biblioteconomia (Universidade de Michigan) e em Antigo Testamento (Andrews University). Wheeler é autor de um livro sobre a história da Igreja Adventista: James White: Innovator and Overcomer (Hagerstown, MD: Review and Herald, 2003).

Retirado de Gerald Wheeler, “The historical basis of Adventist standards”, Ministry, outubro de 1989, p. 8-12. Disponível em: https://www.ministrymagazine.org/archive/1989/October/the-historical-basis-of-adventist-standards [Inserir hiperlink]

Para estudo mais aprofundado sobre o tema deste artigo, veja: Benjamim McArthur, “Amusing the masses”, em Gary Land, ed., The World of Ellen G. White (Hagerstown, MD: Review and Herald, 1987), p. 177-191; George R. Knight, Ellen White’s World: A Fascinating Look at the Times in Which She Lived (Hagerstown, MD: Review and Herald, 1998), p. 130-140.

Referência: Danilo Meira